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sábado, 29 de setembro de 2012

Análise do filme 1984


             Apesar de o livro ter sido escrito em 1945 e mostrado um futuro na época de 1984, é possível realizar uma grande analogia em relação ao mundo contemporâneo e a realidade em que vivemos. Digo isso porque a vigilância sobre a população tão enfatizada no filme, pode ser relacionada atualmente com numerosas situações cotidianas, seja no armazenamento de dados da pessoa em redes sociais, possibilitando a divulgação pública de informações privadas; até mesmo através do GPS, em que os próprios movimentos podem ser facilmente localizados; e as câmaras nas ruas, escolas, consultórios? Aparentemente, visando a segurança, realisticamente vigiando os cidadãos, garantindo ao sistema atual o controle de todas as atividades realizadas pelo indivíduo.

           Além disso,  há a questão das informações reeditas tão bem mostradas no filme com o Smith, que fazia parte do partido e trabalhava na área de informações, possibilitando a ele uma mudança nas notícias que seriam divulgadas, de acordo com os interesses do Estado. Isso mostra talvez a sociedade em que vivemos: será realmente que todo o sistema de produção e divulgação das notícias, informações não são distorcidas, manipuladas, colocando o que querem em jornais, revistas, todos os tipos de meios de comunicação de massa em prol do proveito do “dono” do poder atual? Alguns podem ser bem claros, outros talvez saibam ser sutis.
             O autor quis mostrar uma verdadeira crítica ao totalitarismo, seja através da criação da “teletela”, espécie de televisão instalada em todos os locais, para que a população fosse obrigada a ouvir todas as notícias repassadas (eram controladas pelo governo e atuavam sempre a mostrar o desenvolvimento da cidade e melhoria das condições na sociedade) e pudessem ao mesmo tempo serem observadas pelo sistema de monitoração do “Big Brother”.
         Pode-se, portanto, relacionar essa monitoração ao programa atual do Big Brother, em que os participantes se submetem a serem vigiados, mesmo que isso seja prejudicial depois a eles, por mostrá-los 24 horas e muitas vezes degradar a imagem de vários deles, devido a priori a edição de imagens realizadas pelo próprio programa.       
         Em uma sociedade onde o Estado é retratado por impor todos os seus interesses à população, influenciando-os, seja desenvolvendo um novo idioma ou oprimindo aqueles que são contra o regime instaurado, Smith e Julia marcam a contrariedade ao sistema, principalmente pelo amor dos dois e os prazeres vivenciados, que mesmo simples (evidenciado pelo anseio do protagonista de beber café, por exemplo), são proibidos.
             Algo curioso para ser refletido é o fato de que para o protagonista a liberdade era poder dizer que 2+2= 4, porém o partido fazia com que, para exercerem o poder, acreditassem absolutamente que 2+2 = 5, visando a certeza que não poderiam refletir sobre determinados assuntos, como esse, e sim simplesmente aceitar. 
          Ps: é bom observar que até mesmo as crianças não escapam desse jogo do partido, até mesmo são as principais delatoras, como foi visto quando Smith encontra seu vizinho, que foi denunciado pela própria filha, já que é moldada, educada através dos padrões de comportamento do sistema em vigor.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Como Walt Disney bombardeou o Japão

A máquina de propaganda antinazista da Disney - e veja como Walt deu a receita para a vitória na 2ª Guerra.

Walt Disney desejava defender os Estados Unidos. Tentou na 1ª Guerra, mas era menor de idade e só conseguiu um posto de piloto de ambulância da Cruz Vermelha depois que o conflito acabou, em 1918. Quando a 2ª Guerra chegou, em 1939, ele já era um artista conhecido e renomado - Branca de Neve e os Sete Anões, seu primeiro longa-metragem de animação, é de 1937. Usou seu talento na produção de filmes de treinamento e propaganda. Zé Carioca, o personagem brasileiro criado por ele também, é um filho do esforço de guerra e da política de boa vizinhança americanos. Entre 1942 e 1945, Disney produziu mais de 68 horas de animação de caráter patriótico. A importância do animador para as Forças Armadas dos EUA pode ser medida de forma simbólica. A senha para a maior operação americana na 2ª Guerra, o Dia D, foi Mickey Mouse.

A participação de Disney no esforço de guerra incluía a produção de filmes de treinamento militar, de propaganda e educação para o público americano - e de libelos antinazistas. Mas não só isso. Seus desenhistas criaram mais de mil insígnias usadas por divisões das Forças Armadas. As ações dos estúdios Disney "foram uma das principais bombas que os exércitos aliados lançaram contra seus inimigos", afirma Clotilde Perez, professora da Escola de Comunicação e Artes da USP. Disney, claro, não estava sozinho. Muitos outros diretores e atores de Hollywood se engajaram na luta contra os países do Eixo depois de Pearl Harbor. Mas era difícil concorrer em popularidade - e em volume de produção - com o pai de Mickey Mouse.

O envolvimento entre Disney e o governo começou antes da entrada dos EUA na guerra. Em busca de novos mercados - mas principalmente de aliados estáveis no continente -, o presidente Franklin Roosevelt criou a chamada "política da boa vizinhança". O responsável pelo programa era o milionário Nelson Rockefeller, que alertara o presidente sobre a influência nazista na América Latina. Em agosto de 1941, Disney estava ao lado do enfant terrible Orson Welles em terras brasileiras. Welles havia acabado de lançar Cidadão Kane. Por aqui, filmou jangadeiros, investiu num roteiro sobre um garoto e seu touro, tentou um documentário chamado É Tudo Verdade... E a verdade é que nada deu certo. Ao contrário de Disney. No Rio de Janeiro, inspirado pela natureza e, dizem, pelas piadas de papagaio, criou Zé Carioca - o tipinho folgado, de guarda-chuva e gravata-borboleta, que atazanaria o Pato Donald em Alô, Amigos, de 1943.

A partir de 1942, com os EUA no front, Disney engajou-se de vez. Seus estúdios foram transformados em alojamentos e centenas de militares passaram a residir ali. Marinha, Aeronáutica e Exército requisitavam a todo momento a presença do artista para colaborar com as ações de combate. Inspirados pelos oficiais, os personagens de Disney também foram para as trincheiras. Pato Donald estrelou um filme em que mostrava aos cidadãos americanos a importância de pagar em dia os impostos. Era o dinheiro do contribuinte que financiava as atividades bélicas além-mar. Nos aviões, navios, hospitais e ambulâncias, a turma do Mickey desfilava tentando elevar a autoestima da nação. Em um dos curtas metragens, Out of the Frying Pan into the Firing Line, (Saindo da Frigideira para a Linha de Tiro), Minnie, de saia azul, avental, sapatos de salto alto vermelhos e laçarote na cabeça, está preparando ovos com bacon. Na parede, uma foto de Mickey, de farda, transcende otimismo (é a única imagem em toda a história do rato em uniforme militar). Ela está prestes a despejar gordura sobre a ração de Pluto quando o locutor de rádio interrompe a ação com um alerta às donas de casa: quem desperdiça o resto da gordura da cozinha está favorecendo os exércitos inimigos. E não é por elevar o colesterol das tropas nacionais. Minnie deve saber que a mesma gordura serve também para fazer munição. O locutor explica que se deve depositar o óleo usado em uma vasilha e congelá-lo. Quando o pote estiver cheio, um açougue identificado por um selo do governo trocará a gordura por dinheiro.

Nos meses seguintes as produções se sucederam. Em Victory Through Air Power (Vitória por Meio do Poder Aéreo), de 1943, a propaganda sutil dá lugar a um manual de como vencer o Japão por meio de bombardeios. Baseado no livro do major Alexander P. Seversky, o filme mistura desenhos e imagens para mostrar como a aviação transforma o poderio bélico e o rumo das guerras. Os traços típicos das superproduções Disney prestam-se a detalhar como é a melhor forma de bombardear países inimigos. O filme retrata a expansão das tropas de Hitler pela Europa e o ataque da Marinha japonesa à base de Pearl Harbor. Seversky ensina estratégias de de ataque, mostra mapas e projetos para bombardear indústrias bélicas do Eixo. Ele evidencia o caminho da vitória: investir em bombardeios aéreos em solo japonês.
Ninguém sabia ainda que, em agosto de 1945, o país da Disneylândia lançaria bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki.
O ponto alto das animações de propaganda de Disney são os filmes contra o nazismo. Num deles, Der Führer's Face (A Face do Führer), de 1943, Donald é funcionário de uma fábrica de munições na Alemanha e é ameaçado de morte a qualquer sinal de cansaço - e devidamente vestido de nazista, como você viu na abertura desta reportagem. Em The Hitler's Children - Education for Death (As Crianças de Hitler - Educação para a Morte), o pequeno Hans é acompanhado desde o nascimento até se tornar um nazista fanático quando jovem. Numa das sequências que parodia a lenda da Bela Adormecida (que o próprio Disney lançaria só em 1959), Hitler é um príncipe medieval que salva a donzela Alemanha da bruxa Democracia. Ao longo do filme, a Bíblia se transforma em Mein Kampf e o crucifixo cristão dá lugar à suástica - mais direto, impossível.


1. Vitória por meio do poder aéreo (Victory Through Air Power, 1943)


2. Saindo da frigideira... (Out of the Frying Pan into the Firing Line, 1942)


3. As crianças de Hitler (Hitler's Children - Education for Death, 1943)


4. Você já foi à Bahia? (The Three Caballeros, 1944)

A iniciativa americana de criar e manter alianças na América Latina foi um capítulo especial da diplomacia na 2ª Guerra. Vários países, entre os quais o Brasil, nutriam simpatia pelo nazismo. Um dos fronts da política da boa vizinhança foi a cultura. Zé Carioca é fruto disso.

(Revista Aventuras na História, março 2012)